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É espantoso como a preocupação com a transcendência mostra-se tão clara em todas as manifestações culturais.
No caso da cultura egípcia, em especial, nos quatro primeiros milênios antes de Cristo, matéria e espírito apresentavam-se unos à medida que a vida, a expressão e a morte, ou seja, toda a arte de existir fundamentava-se em bases direcionais bem sólidas, setas voltadas para o alto em todas as representações visuais, servissem elas a um ou outro fim.
Por meio de óptica bidimensional, pirâmides triangulares, esfinges, sarcófagos, afrescos, esculturas e até mesmo cortes de cabelo em forma de trapézio representavam a busca por essa base consistente apontando para a imensidão do espaço, para a vida além da vida, para o desconhecido.
Desafiaram o conceito de fim, do nada além do tudo, da escuridão após a luz, afinal, tudo aquilo brotou de um deserto...
Instituíram, antes de qualquer descoberta científica, a quarta dimensão, o depois, o daqui a pouco, desarticulando o corpo em benefício da angulação mais bela, onde a desconcertante frontalidade desafia onipotente, de peito aberto e olhos desafiadores, qualquer idéia de ameaça ou fim.
Naquela arte, tudo parece tão simples, tudo é tão singular... O impossível habita apenas a nossa perplexidade diante de tamanha competência em deixar à humanidade o legado de ousadia e criatividade incomparáveis.
Nos dois mil anos que se seguiram à conquista romana, em 30 a.C., percebemos, ininterruptamente, recontextualizações embasadas na sua obra. A união entre força e sabedoria, as angulações simultaneamente desconexas ao nosso entendimento condicionado às proporções clássicas e representações naturalistas fazem-se presentes em, praticamente, todos os estilos, escolas e movimentos artísticos que se seguiram. A perspectiva hierárquica cujo fato ou sujeito principal da ação ocupa a base dos universos pictóricos, definitivamente, não levava em conta os efeitos ópticos da distância, em atitude ambígua de imposição e troca de conteúdo em relação ao espectador. Esse tipo de exposição da realidade irá conduzir o nosso imaginário por séculos, mais notadamente, no período gótico e, mais tarde, no Expressionismo. Já no início do século XX, fica clara a origem das pesquisas de Pablo Picasso na busca de uma forma representativa para quarta dimensão em um de seus mais famosos quadros, Les Demoiselles d’ Avignon (MOMA, Nova York, 1906-7), referenciado como o marco do cubismo.
É, creio não encontrar explicação para a nossa total incapacidade em reproduzir a técnica, apreender todos os mistérios e significados ou reproduzir a sua forma ímpar sem parecermos repetitivos ou meros copistas.
E viva o poder da adaptabilidade!
Déia Francischetti
UniCEUB em Revista – Ano VI - 05/2005 – Nº 20
Arte e diagramação: alunos do curso de Comunicação Social do UniCEUB
No caso da cultura egípcia, em especial, nos quatro primeiros milênios antes de Cristo, matéria e espírito apresentavam-se unos à medida que a vida, a expressão e a morte, ou seja, toda a arte de existir fundamentava-se em bases direcionais bem sólidas, setas voltadas para o alto em todas as representações visuais, servissem elas a um ou outro fim.
Por meio de óptica bidimensional, pirâmides triangulares, esfinges, sarcófagos, afrescos, esculturas e até mesmo cortes de cabelo em forma de trapézio representavam a busca por essa base consistente apontando para a imensidão do espaço, para a vida além da vida, para o desconhecido.
Desafiaram o conceito de fim, do nada além do tudo, da escuridão após a luz, afinal, tudo aquilo brotou de um deserto...
Instituíram, antes de qualquer descoberta científica, a quarta dimensão, o depois, o daqui a pouco, desarticulando o corpo em benefício da angulação mais bela, onde a desconcertante frontalidade desafia onipotente, de peito aberto e olhos desafiadores, qualquer idéia de ameaça ou fim.
Naquela arte, tudo parece tão simples, tudo é tão singular... O impossível habita apenas a nossa perplexidade diante de tamanha competência em deixar à humanidade o legado de ousadia e criatividade incomparáveis.
Nos dois mil anos que se seguiram à conquista romana, em 30 a.C., percebemos, ininterruptamente, recontextualizações embasadas na sua obra. A união entre força e sabedoria, as angulações simultaneamente desconexas ao nosso entendimento condicionado às proporções clássicas e representações naturalistas fazem-se presentes em, praticamente, todos os estilos, escolas e movimentos artísticos que se seguiram. A perspectiva hierárquica cujo fato ou sujeito principal da ação ocupa a base dos universos pictóricos, definitivamente, não levava em conta os efeitos ópticos da distância, em atitude ambígua de imposição e troca de conteúdo em relação ao espectador. Esse tipo de exposição da realidade irá conduzir o nosso imaginário por séculos, mais notadamente, no período gótico e, mais tarde, no Expressionismo. Já no início do século XX, fica clara a origem das pesquisas de Pablo Picasso na busca de uma forma representativa para quarta dimensão em um de seus mais famosos quadros, Les Demoiselles d’ Avignon (MOMA, Nova York, 1906-7), referenciado como o marco do cubismo.
É, creio não encontrar explicação para a nossa total incapacidade em reproduzir a técnica, apreender todos os mistérios e significados ou reproduzir a sua forma ímpar sem parecermos repetitivos ou meros copistas.
E viva o poder da adaptabilidade!
Déia Francischetti
UniCEUB em Revista – Ano VI - 05/2005 – Nº 20
Arte e diagramação: alunos do curso de Comunicação Social do UniCEUB